plural

PLURAL: os textos de Neila Baldi e Noemy Bastos Aramburú

Não é a educação
Neila Baldi 
Professora universitária

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Quem vê o esforço daquele que ocupa o Palácio do Piratini no retorno às aulas presenciais acredita que ele está preocupado com a educação. Só que não. Ele está preocupado com a dissolução do Estado - a partir das privatizações - e em construir seu nome nacionalmente como candidato da direita. Seus projetos pessoais nos levaram, na última terça-feira, a uma situação inominável: mudou as regras do Distanciamento Controlado para que as aulas presenciais voltem.

Primeiro, ele perdeu na Justiça a volta à presencialidade. Depois, cedeu à pressão e à chantagem de parte do Legislativo: o fim dos plebiscitos referentes às privatizações só seria aprovado se o Distanciamento Controlado mudasse e as aulas presenciais voltassem. Ou seja, a Educação virou moeda de troca.

Se eu fosse do Comitê Científico do Distanciamento Controlado, pediria para sair - como outros fizeram no início do ano - e proporia uma renúncia coletiva, pois o que foi anunciado é um descalabro e a negação da ciência. Fora que o modelo estava mais focado na ocupação das UTIs do que na taxa de transmissão do vírus.

Estamos em emergência sanitária. Esta semana, pela primeira vez, desde novembro, o índice de transmissão ficou abaixo de 1 - indício de que a pandemia começa a desacelerar.

A maior parte das autoridades sanitárias internacionais indica a volta às aulas presenciais a partir da taxa de transmissão baixa. Mas, por aqui, invertemos a lógica: abrimos tudo - em bandeira preta - e cobramos: por que não as escolas? A pergunta deveria ser: por que tudo está aberto?

A reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Lucia Pellanda, que compõe o comitê científico do Distanciamento Controlado, disse em entrevista ao Sul 21 que: "Se a opção é a escola, então outras coisas têm que fechar. A escola tem que abrir com segurança e os protocolos hoje não oferecem essa segurança". É preciso ventilação adequada e máscaras PFF2.

Quando o senhor do palácio passa por cima da ciência, é evidente que não está preocupado com a saúde, a vida, nem a educação. E isso diz respeito não apenas à comunidade escolar. O prejuízo pedagógico das aulas remotas não está em pauta. O que está em pauta, para ele, é o prejuízo econômico das escolas privadas.

O candidato a presidenciável esquece que, com a pandemia sem controle, ficamos mais tempo com a economia sangrando. Se tivéssemos feito lockdown na bandeira preta, a situação hoje seria outra. Mas ele resolveu acabar a pandemia por decreto, colocando o Estado em bandeira vermelha. Mais gente nas ruas, mais contaminação.

Abstração

Noemy Bastos Aramburú
Advogada, administradora judicial, palestrante e doutora

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Na quarta-feira, dia 28 de abril de 2021, todos os operadores do direito tiveram problemas ao acessar o site do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, posteriormente o @tjrsoficial publicou a seguinte nota oficial: "o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJRS) foi alvo, no dia de hoje, de ataque cibernético e, em razão disso, os sistemas de informática estão indisponíveis". 

Esta é a segunda ocorrência em menos de um ano, assustando a todos, Inclusive, houve orientação para os advogados e servidores não acessarem o portal, sob pena, de terem senhas roubadas. Tal ataque bloqueou o acesso ao site, fazendo com que o Tribunal fosse obrigado a suspender os trabalhos, bem como os prazos, o que deve estender-se até a próxima segunda-feira. 

Quem já esteve no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul conhece o forte esquema de segurança existente no local, homens com equipamentos de segurança, câmeras em todos os lugares, seja na área interna, onde é exigido documento de identificação para adentrar, seja na parte externa do prédio, onde apenas magistrados e servidores podem circular com seus veículos. 

Entretanto, o perigo não veio de forma concreta, mas de forma virtual, onde todo o aparato de segurança existente no local não foi suficiente para evitar o ataque. Hodiernamente, as catástrofes que têm atingido o homem, tem vindo de forma abstrata, razão da sua dificuldade para o enfrentamento, já que estamos preparados para "revidar'' o que tocamos. 

Um exemplo claro disso foi e está sendo a dificuldade para o enfrentamento do vírus Covid-19. Inclusive há pessoas que ainda resistem e não acreditam no vírus. Porém, por mais relutante que sejam não há como negar o legado deixado pela pandemia. Não precisamos mais nos defender de leões, nem de cobras, muito menos dos maragatos e chimangos, mas de coisas abstratas. Quem não foi atingido pela Covid-19? Quem não teve celular clonado? Quem não teve cartão do banco clonado? 

Esse é o X da questão. O homem tem dificuldade com abstração e sempre busca racionalizar o abstrato, colocando a culpa em algo palpável, enquanto deveria estar preparado para o enfrentamento do desconhecido, evitando caminhos que o tornam vulnerável. Um exemplo claro disso foram as pessoas que não fizeram a primeira dose da vacina de imunização da Covid-19 e as que, apesar de terem feito a primeira dose, não compareceram para a outra aplicação, preferindo acusar a vacina de ser algo prejudicial à saúde. Com este comportamento, acabam criando mentiras, abstraindo o risco que sua fala produz nos demais pessoas. Lutemos pela vacina.

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